segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Crónicas da vida - Na recepção de um Laboratório de Análises Clínicas

Era uma vez... EU! Cheia de vontade de ser independente e no último ano do secundário com poucas disciplinas decidi-me pela aventura no mundo do trabalho e dos estudos em pós-laboral.


Lá fui ao IEFP em busca de uma forma para preencher o dia. Isto no tempo que as coisas ainda eram fáceis. Lembro-me de que não demorou muito, mas porque todas as semanas ia ver as ofertas e perguntaram-me se queria ir a uma entrevista para a recepção de um Laboratório de Análises em Cascais. No início fiquei apreensiva já que não entendia nada de nada, a não ser que me custava muito tirar sangue e ainda hoje não consigo olhar para a seringa enquanto me sugam o braço.


Após a entrevista final fui conhecer as instalações, fui apresentada aos médicos que davam consultas particulares de ginecologia, estomatologia e clínica geral, vesti a bata branca, explicaram-me as minhas funções e o tipo de análises que fazíamos bem como os parceiros de trabalho. Acertámos os pormenores e comecei num belo dia de Agosto mesmo no centro da caverna do velho Éolo, rei dos Aquilões. 


O primeiro problema surgiu logo nos primeiros dias, quando um senhor de aproximadamente 50/60 anos me entrega a credencial para saber o que era necessário para fazer o exame. Como que nunca tinha tido contacto com nada do género, quando li a credencial e digo-vos já que a letra de médico é decifrável, é preciso é dominar os termos técnicos, fiquei engasgada, gaga, ruborizada, num misto de nervos e alguém que me tire daqui...

Um espermograma!!!! Como é que se explica a um senhor com cara de pai quase avô que tem de fazer um espermograma? Ainda mais estando ele com cara de cachorrinho a entrar no canil quando o dono vai de férias...
Pois que não consegui! Li e reli a credencial, sacudi o cabelo, mordi o lábio, atendi o telefone mas tive de chamar a técnica e a coisa não melhorou.

Ela explicou-lhe que não podia ter relações durante 3 dias, que tinha de trazer a amostra em 15 minutos após a colheita mas também a podia fazer no laboratório, isto dito com o ar mais compenetrado do mundo. Enquanto isso eu não parava quieta, mexia em tudo o que eram papeis, andava entre a recepção e o laboratório, deixava cair as canetas em modo repeat com os nervos causados pela situação.

O senhor ouviu a explicação e logo de seguida disse que não iria fazer o exame. Confesso que fiquei aliviada, pois não me agradava nada ter de dar uma referência a um frasco com... aquilo... já para não falar de que a ideia de ter alguém a colher... aquilo... a 3 metros de mim, me causava uma certa repugnância.


Melhor também não foi o dia em que uma senhora de meia idade não fechou bem o seu frasco de compota atestado com urina e ao pegar na tampa para me entregar a colheita a entornou em cima de mim e dos envelopes com resultados de análises para entrega, logo pela manhã.
Nem sei se me apeteceu primeiro chorar compulsivamente, bater na senhora ou despedir-me....


Também não me esqueço do dia em que apareceu uma análise a fezes, em que ao abrirem o boião, numa calorosa tarde de Agosto, daqueles dias em que o ar parece irrespirável e em milésimas de segundos evacuámos o laboratório quase sufocadas com o cheiro já em paragem cardio-respiratória.


Dos testes de gravidez houve um em particular em que a rapariga já nos 30's e com todos os sintomas de gravidez avançada, jurava que não era possível e que não passava de um descontrolo hormonal, mesmo depois de fazer o teste sanguíneo. E não fosse eu estar numa zona restrita ela estava capaz de me bater só porque o teste deu positivo.


Mas o episódio que nunca me vou esquecer enquanto for viva e lúcida é de um senhori di cori que foi fazer o tal do espermograma porque a sua senhora, também di cori e cara de poucas amizades não conseguia ficar de esperanças.
Pois que o aventureiro foi para o wc fazer o serviço e claro que o pânico instalou-se. Não conseguia desassociar a colheita a poucos metros de mim, dos tarados que vão fazer coisas menos próprias para as portas dos liceus. Mas não era ... Era trabalho e eu não estava a conseguir manter a pose.
Vi sombra dos pés do senhor de um lado para o outro no wc, o laboratório com a sala de espera cheia, eu suava e nem sentada conseguia estar com medo do que viria a sair dali ou de um grito de tarzan na selva no momento fulcral.
Quando a porta se abre, e o senhor sai... Devia estar mais assustado do que um ratinho perante uma cobra... pensava eu!
Saiu a rir, chegou perto da minha secretária e disse:
- Não me dá uma ajuda? Assim não consigo...
Nem sei se perdi os sentidos, se por momentos vi a luz ao fundo do túnel, se ... nem sei! Só consegui dizer...
- Nãaaaooo!!!
E nem me lembrei que o senhor podia estar a pedir revistas ou qualquer coisa do género. Não pensei em nada... fiquei em choque anafiláctico, térmico, morte cerebral... tudinho!
O senhor fez a colheita, eu não fui buscar nem dei referência nem nada. Estava fechada no wc e não saí de lá até aquele tormento acabar.


Das coisas mais horríveis que vi foi a análise à expectoração ... Belhaque dos grandes!!! No-jo
E sim, há pessoas que não conseguem ver sangue e desmaiam logo de seguida.



Se ainda não me tinha decidido pelo que queria ser, estava bem ciente do que não queria...


Conselho do post:
Senhoras! Quando forem fazer análises à urina é favor obrigar o mais-que-tudo a utilizar preservativo.
Não é bonito receberem no resultado da mesma a observação da existência de "Alguns espermatozóides!"

Sem comentários: