Todas as familias têm um problema, uma deficiência, uma mania, qualquer coisa. Alguns não se falam, outros matam-se, outros são felizes e contentes mas maluquinhos e o problema da minha familia materna
(e que é pequena porque a regra imposta pela seita é ter só um filho mas nenhum era mesmo o ideal), é aquilo de que menos percebo nesta minha existência,
o Futebol.
Para que esta patologia tivesse tomado as porporções que tem hoje só foi possível com o carisma de personagens como o meu tio, sendo que este desenvolveu uma grave e irremediável doença encontrando-se já em fase terminal, chamada Síndrome Benfiquista. Padece de toda a sintomatologia do adepto crónico, (taquicardia, queda de cabelo, tremores e suores frios) e de um exímio treinador de sofá (tem sempre várias teorias e criticas a fazer à constituição da equipa do coração) que por sua vez já contaminou o filho dele, meu primo (adepto normal que ainda não tirou o doutoramento como o seu pai) e a sua conjuge, minha tia (adepta passiva). Fazem ainda parte da unidade de doentes contagiados por este síndrome o meu pai (que está no limite do simpatizante e início do adepto uma vez joga de calcanhar contra o sofá e adormece no intervalo do jogo, deve ser do cansaço), a minha mãe (é a adepta que mais me enerva por não a ter conseguido converter) e o vendido do meu irmão (para o qual ainda estou a pensar num método eficaz para o reter em casa até aos 18 anos).
Desta parte da familia apenas eu possuo imunidade, uma vez que sou do contra e decidi desde tenra idade que não gosto de vermelho nem de pássaros de rapinas nem de futebol.
O caso mais complicado está precisamente na matriarca da familia, a minha avó!
Ela tem uma relação amor-ódio com o desporto rei, que segundo a própria não desgosta, mas estando ela em comunhão de mesa e habitação com lampiões doentes, não lhe fica nada bem a atitude que tenho vindo a verificar de há uns anos a esta parte.
A minha avó é simpatizante do FCP (sorrisinho maléfico), e não assume! Afinal não sou a única ovelha negra da familia, e é facilmente verificado em dias de jogo que coloquem em oposição as duas equipas.
Se para mim é uma verdadeira tortura permanecer 90 minutos a ver um jogo sem ser no próprio estádio a ouvir os cânticos das claques e a utilizar o meu falcon eye para ver por onde pára o homem das queijadas de Sintra, tornou-se numa comédia desde que todos nos apercebemos que ela age como uma "dragona".
Faço questão de me sentar em frente aos enfermos, enquanto estão de olhos postos na televisão a observar o despique e reacções da minha avó (que faz figas e juro que já vi) perante o estado de nervos, ansiedade e desespero do meu tio, que é das coisas mais hilariantes que tenho assistido.
Abaixo ficam alguns dos sintomas e características da doença acima referida sem qualquer base científica, alertando para o facto de que o único tratamento de eficácia comprovada é o uso contínuo de 605 muito forte 1 x por dia após a refeição.
Sintomas de um adepto:
- Nervoso miudinho passando a tiques e tremeliques com vontade de urinar à medida que se aproxima a hora do jogo;
- Taquicardia, parecendo enfarte do miocárdio quando a equipa adversária marca golo;
- Suores frios intercalado com arrepios;
- O vestuário do dia-a-dia incluí variadas peças com a cor do clube sob o pretexto de ser a preferida;
- Verbalização de muitas palavras numa fracção de segundos entre as quais inclui uma colecção outono/inverno de ofensas ao árbitro e fiscais de linha.
Alimentação de um adepto:
- Coirato, courato ou corato, conforme a barraca, e biorra, mini ou mine;
- Feveras, feberas ou febras de porco
- Tremoços ou marisco do Eusébio e amendoins ou alcagoitas.
Tipo de adepto:
- Jogador virtual, é aquele que simula o próprio jogo contra o que estiver mais perto;
- Treinador de sofá, é o que possuí uma capacidade estratégica e ofensiva evidenciada na linguagem corporal e nos gritos durante a visualização do jogo;
- Normal é o que chama nomes aos jogadores, árbitros, treinadores e adjuntos e ainda ao vizinho de lado;
- Passivo que é como quem diz casado com um dos acima referidos.
Perfil do adepto:
- Benfiquista - gosta de cores quentes desde laranja ao vermelho passando pelo fushia que dizem ser cor de macho. Veneram a Fáfá de Belém e queimam uma vela todos os anos em Fátima pelo seu clube;
- Sportinguista - gosta das cores natureza, é sensível e altivo, um/a verdadeiro/a senhor/a :) o animal preferido é o gato e tratam-se por você (na cama deve ser tão mais excitante);
- Portista - faccioso, gosta de cores frias desde o branco ao cinzento passando pelo azul bebé, que também é cor de macho e adoram o Quim Barreiros e o Pedro Abrunhosa. Tratam-se por nomes carinhosos como filho da .... e vacas (isto eu ouvi num jogo).
Está na hora da medicação que é como quem diz, mais um episódio das Donas de casa desesperadas.
See ya! ; )